Diálogos#

Diálogos #1



- Eu sou uma pessoa que busca estar atualizada nas informações;
- Mais que informação, eu busco é discernimento. 
- Eu sou FOTÓGRAFO Thiago Ferreira.
- Sério que sua mãe te batizou assim?
- Assim como?
- Com o nome de um exercício de profissão.
- Hã?
- Me chamam de Nata, diminuição de Natália. Tenho uma profissão, mas ela não consta no meu rg.
- Mas eu sou fotógrafo.
- Você se resume a isso? Eu acho que sou algo mais que apenas a minha profissão.
- Acho que é hábito me apresentar assim... Você é o que?
- Eu sou um milhão de pessoas diferentes. Busco ser tudo aquilo que gosto.
- Hahá, mas você trabalha em que? melhor dizendo.
- Eu trabalho em várias causas. Se eu acreditar, eu trabalho e duro.
- Eu já ganhei algumas coisas.
- Eu gosto mais do percurso do que do que da gratificação.
- Eu conheço vários países, e você?
- Nunca saí do país. Visitei outros estados, mas ainda estou trabalhando para conhecer cada esquina dessa cidade.
- Mas assim você perde muita coisa desse mundo...
- Pelo contrário. Ganho. Como posso compreender cidades e povoados, se não conheço a fundo o local em que vivo?
- Mas é tanta informação... (suspiro)
- Mas é preciso discernimento.


Diálogos #2


- O que aconteceu?
- Estou te ouvindo.
- Mas assim? calada? Não vai contar uma experiência sua?
- E você ouviria?
- Claro e falaria sobre algo parecido, sobre como agi, como me senti, sobre o que eu penso...
(...)
- Vai continuar calada?
- Estou te ouvindo. Você quer um diálogo?
- Lógico. Acabei de te dizer tudo o que eu faria.
- Então você não quer um diálogo. Quer um monólogo a dois.
- Não é isso não. Estou até me sentindo envergonhado falando tanto.
- Não se sinta. É o que mais vejo hoje. As pessoas recorrem à outras não para debater idéias, conversar sobre aleatoriedades da vida, normalmente, um diz, o outro não ouve, e continua falando e o um está nessa mesma sintonia.
- Nossa!
Por que o espanto?
- Pensei agora em um cara que não falava nada, só ouvia e guardava as informações para usar contra as mesmas pessoas que se abriam com ele. Então, você não sabe...
- Percebeu?
- O que?
- Você não me ouviu. Escutou, abstraiu uma palavra solta na idéia e começou mais um monólogo.
- Ah, me desculpa. Você tem razão. Devo ter algum problema com concentração.
- Então 80% das pessoas também tem. Ai se torna normal. Problemáticos são aqueles que ouvem.
- Deve ser coisa de cidade grande.
- Às vezes a cidade grande é tão conservadora, em relação à cidade do interior, que por sua vez pode ser tão solitária quanto a outra.

Diálogos #3


- Olha como ela dança bem...
- Deve estar muito louca.
- Só por que ela não liga de você olhar?
- Por que ela está solta demais, pra isso, uma pessoa normal precisaria de pelo menos 4 cervejas.
- Olha o que ela está segurando!
- Água? duvido, que seja isso que tenha dentro da garrafa! está até de olhos fechados...
- Quanta besteira! Ela dança assim, porque é como se só houvesse ela e as luzes, é como se ninguém estivesse olhando. Então ela é livre e dança como se nem fosse necessária a batida!
- Ah, tá.
- Queria não ter amarras assim, e não me importar com o que ninguém venha a pensar. Imaginar que, pelo menos nesse momento, ninguém mais no mundo existe!

Diálogos #4


- É como a mudança sutil de estações...
- Mas quando se nota, você já sente o choque climático...
- É que a sonoridade do tempo mudando é quase como um sussurro. É preciso silêncio e calma para notar.
- Mas o mundo gritou durante esse período, e eu estive desatento com tantos sons diferentes. Quando dei por mim, a mudança parecia drástica e irreversível.
- Nada é definitivo, se você conseguir o equilíbrio para observar, verá, devagar e silenciosamente, a mudança acontecer mais uma vez. São nesses momentos (quase que insignificantes, para olhos grandiosos), que se deve agir para mudar o resultado.
- Esse é o problema! Ela não é dramática, e os olhos não a vêem, pois o coração sempre tem pressa.

Diálogos #5


- Muito obrigada, estou até com lágrimas nos olhos.
- Não necessita disso, minha filha...
- O senhor não sabe como está me ajudando... não sei como retribuir, nunca ninguém fez isso por mim.
- Já me retribui saber que estou sendo útil ajudando alguém. Nessa idade, não querem me deixar fazer nada, como se não só meu corpo fosse frágil, mas minha mente também.
- Queria, eu, poder ajudar alguém assim um dia.
- Mas você não precisa esperar o "um dia" chegar, há tanta gente precisando de uma palavra, que seja. Palavras são de graça, é a maior ajuda que se pode oferecer, maior até que bens materiais.
- O senhor é mesmo um santo!
- Deixe disso, pequena! O ser humano anda tão ruim, que qualquer bondade vira coisa de santo!

Diálogos #6


- Como ele não exerga isso?
- Porque ele tem medo, oras.
- Ter medo não nos torna cegos ou burros.
- Mas nos deixa em estado latente, preferimos nos abster tanto da realidade que ignoramos o que nos convém.
- É aquela velha história da ignorância ser a felicidade...
- É o medo que nos faz perder a consciência.
- Então é ele que nos torna covardes.

Diálogos #7


- E então foi por causa dos olhos?
- Sim. Aquele olhar me fez querer chorar.
- Achava que era pela sua saúde. E como foi?
- Eu tinha uns nove anos. Cheguei mais cedo da escola e, de repente, me deparei com o amigo que eu amava agonizando de cabeça para baixo. Era um franguinho. Eu brincava com ele todos os dias... ele ainda estava vivo, e aqueles olhinhos perdendo a vida me deixaram desesperada. Gritei, chorei, não entendia por que minha mãe havia feito aquela maldade, se eu estava me comportando...
- Que triste. Mas e então?
- Foi quando eu comecei a fazer a conexão sobre o que era o que eu comia.
- Mas esse era um animal para se comer mesmo...
- Não. Ele era um amigo.

Diálogos #8


- Fala em destino quem perdeu o rumo.
- Mas as coisas são como tem que ser...
- Você acredita nisso apenas quando não encontra explicação.
- Às vezes, por mais competência que tenhamos, ou que nos falte, as coisas seguem rumos contrários a lógica. Não seria destino?
- Não. Ganhamos e perdemos por vários fatores, e muitos deles independem de mérito, é a nossa realidade.
- Por esse ângulo, você tem razão, mas é uma triste constatação.
- É sim. Inventamos o destino e acreditamos nele para nos conformarmos com a perda do controle.
- Como você chegou a essa constatação?
- As Parcas cortaram meu fio da vida. Perdi o rumo, o destino quis assim. Eu morri e para minha surpresa, continuei vivendo.

Diálogos #9


- Te dou uma carona! Assim ganhamos tempo.
- Mas estamos atrasados?
- Não.
- Então vamos de bicicleta ou a pé!
- Mas ai perderíamos muito tempo...
- E o que você faz com todo esse tempo acumulado que você ganha?
- Eu? Nada. Espero ele passar. Melhor que passá-lo com frio na rua.
- Já reparou que vivemos tentando ganhar tempo? E conseguimos. Mas não o utilizamos de forma que compense ter corrido tanto.
- É o mundo que tem pressa, assim, eu tenho também!
- Mas o mundo nos perderia se tivessemos um pouco de calma e aproveitássemos os instantes? Tempo, nós temos na quantia correta. Só parece que queremos viver além do que podemos, e acabamos não vivendo nada.


Diálogos #10


- A vida tem sabor de café. E ele disse que toma sem açúcar que é para não se iludir.
- E você não disse nada?
- Achei que a canela que ele colocava, diminuísse a acidez que o café provocava. 
- Mas apenas melhora, não resolve.
- Isso.
- E você não toma mais café?
- Eu evito. O aroma seduz, mas eu sei que a expectativa que tenho para com o gosto, será dilacerada. Prefiro só sentir o cheiro e inventar uma lembrança sobre o sabor.


Diálogos #11


- De onde veio essa frase?
- Do carnaval em São Luís.
- Mas é de que país?
- Suécia.
- Posso perguntar o significado?
- Já perguntou! Hahá. É um segredo. 
- Do carnaval?
- Do pós-carnaval.
- Conta a história?
- Ele estava sozinho em meio a multidão. Conheceu algumas garotas suecas, e perguntou como se dizia tal frase. Na impossibilidade da minha presença, foi um presente que quis me dar que durasse para sempre.
- Mas por que uma frase?
- Porque significados não se perdem, nem se quebram. Continuam lá. Apenas significando. Mesmo que o tempo passe, as coisas mudem e o sentimento morra, ele remeterá sempre a mesma idéia.
- Agora essa idéia poderá ser lembrada com mais frequencia! Vou começar a tatuar!
- Ok! Jäg älskar dig!


Diálogos #12



- Não entendo como se pode viver sem sonhar...
- Isso não é sonho. É ilusão.
- E qual a diferença?
- Ilusão é engano da mente, sentidos ou coração. É, basicamente, isso: ser enganado, independente do sujeito da ação.
- E sonho?
- É o que se deseja, o que se aspira, que mesmo que impossível, é claro. Não te engana.
- Então, amigo, lhe digo... algumas vezes gostaria de ser enganado.Na ilusão pelo menos eu posso ter uma fração de tempo, em que há esperança...
- Ai é sua escolha.Não acredito em ilusões, pois tem muita coisa real que não boto fé que acontece.
- Ainda assim...
- Corrigindo o poeta, o que as pessoas querem não é sonho, é ilusão. Mas o que elas precisam, é de realidade.



Diálogos #13


- E eu pensava "psicólogos de RH, eu os odeio!"
- Hahá, mas por que tanta revolta? Te eliminaram?
- Não é isso... que eu sou doida, qualquer um sabe, hahá... a questão é que não é um teste quati, em que eu sou 8 ou 80, que vai determinar a minha personalidade.
- Mas é para dar um direcionamento, só...
- Eu não posso optar pelas 2 alternativas?
- Segundo eles, ou você é racional ou é passional. 
- Equilíbrio entre as duas classificações não existe, pelo visto? Não posso ser as duas coisas em doses moderadas? Não posso estar numa terceira classificação?
- É complicado, mesmo, o comportamento do ser humano é muito variável. Não sei te responder.
- Ser humano é não ser classificado.




Diálogos #14


- Eu não entendo.
- Eu já entendo e acho até bonito. É o verdadeiro desapego.
- Jamais abdicaria de tudo para ter essa vida. Se é que se pode chamar disso.
- A única coisa que possuía valor, ele perdeu.
- E daí?
- E daí que a partir de então, o resto não vale nada.